3.ª INVASÃO
“Antes de um ano serão os ingleses, apesar de todos os seus esforços, expulsos da Península, e a águia imperial tremulará sobre as fortalezas de Lisboa… Não pode haver coisa mais vantajosa para a França, do que ver os ingleses envolvidos em guerras em terra; em vez de conquistarmos Inglaterra por mar, nós a conquistaremos no continente […].”
Após duas invasões o país está empobrecido e em Mafra, desde o início de 1809 que se recolhiam donativos voluntários em nome da “restauração da Pátria e da Liberdade”. Mas o miserável estado em que Portugal se encontrava não se resolveu (nem resolverá) apenas com estes donativos e em junho de 1809 é determinada uma primeira Contribuição Extraordinária da Defesa (repetida por mais duas vezes e que perdurará muito para além do fim das Invasões).
A guerra alimenta a guerra era o lema do exército francês. Este sistema logístico defendia que era da responsabilidade das terras conquistadas a alimentação dos conquistadores. Reabasteciam-se localmente, através de requisições, sem data de pagamento, ou seja, a fundo perdido. E ao longo de nove (intermináveis) meses a vila de Mafra suportou o abastecimento do quartel-general francês.
Terminada a 2.ª Invasão e antecipando uma nova investida do exército francês, Arthur Wellesley, visconde de Wellington, prepara um plano que pretende que seja determinante e definitivo!
E todo o dinheiro é pouco para a preparação e execução desta ambição.
Era necessário fechar a Península de Lisboa aos avanços do inimigo, salvando assim a capital do reino. Era, também, urgente preparar um ponto de embarque seguro para o exército aliado, na eventualidade de uma derrota (deixando os portugueses entregues à sua sorte…) e São Julião da Barra, em Oeiras, foi o local escolhido.
Munido de detalhados (e imprescindíveis, sabemos agora) estudos do relevo do terreno, realizados por Charles-Humbert-Marie Vincent (engenheiro militar francês) e José Maria das Neves Costa (engenheiro militar português) é elaborado um projeto brilhante – as chamadas LINHAS DE TORRES VEDRAS – que se estendem do Tejo ao Atlântico, cobrindo desfiladeiros, caminhos, rios, vilas e aldeias.
Sob as ordens de Wellington erguem-se quatro grandes linhas de defesa, centenas de fortificações (munidas, todas elas, de artilharia pesada – os potentes e destrutivos canhões). São construídas novas estradas, é elaborado um plano de comunicações a longa distância, para transmissão de ordens de uma forma rápida e eficaz… mas nada disso era suficiente sem uma medida devastadora para as populações – a política de terra queimada.
É fundamental privar o inimigo das necessidades básicas e aos camponeses chegam ordens para abandonarem as suas casas (recolhendo-se atrás das Linhas), não sem antes destruírem as suas colheitas (exceto as que pudessem levar consigo), inutilizar moinhos, pontes e casas. Envenenar poços e queimar o que restava…
Não é apenas o povo que sofre com esta Guerra e com as medidas políticas que lhe são impostas. Também, Portugal sofre fisicamente… novas estradas vão rasgar os seus campos, preparando-os para a passagem do exército e os outros serão consumidos pelo fogo. Nada escapa… os moinhos que não foram destruídos são transformados em “despensas” de armas, os morros transformados em “castelos” defensivos e milhares de árvores são abatidas.
Homens, mulheres e crianças sofreram estes sacrifícios na esperança de uma vitória final!
E o regresso do exército francês não se fez tardar, chegam a 24 de julho de 1810, tendo agora como comandante Andrea Massena, aquele que apelidaram “o filho querido da vitória” dado o seu extraordinário histórico de batalhas vencidas.
Cerca e conquista Almeida sendo derrotado no Buçaco por parte do exército anglo-luso, avança lentamente e a visão do sistema defensivo das Linhas de Torres Vedras com que se depara, a escassos 30 quilómetros da capital, deixa-o paralisado.
Os longos, árduos e muito sofridos meses de trabalho na construção dos fortes (que continuarão a ser construídos) dão agora os seus frutos. Não conseguem ultrapassar esta defesa e em seu redor as terras estão transformadas num deserto assustador.
Na noite de 14 de novembro de 1810, ao abrigo da escuridão e de um denso nevoeiro, deixando espantalhos no seu lugar, os franceses abandonam as suas posições… já pouco faltará para a retirada final…
“Massena com um exército de 100 mil guerreiros entra em Portugal em julho de 1810. É bem conhecido de todos que ele foi chamado - Filho da Vitória - pelas muitas batalhas que venceu, e afirma que reservou para si a conquista de Portugal. Este homem, tendo tentado [vencer] até 5 de março de 1811, enfrenta a carestia e a fome mais horríveis e na guerra a fortuna adversa, foge precipitadamente, deixando bagagem, carros, canhões e até os doentes e enraivecido, ataca as aldeias por onde passa e comete todos os excessos e, além das perdas relatadas, deixa nas mãos dos ingleses, espanhóis e portugueses vencedores mais de 50 mil soldados entre mortos e prisioneiros.”
