DEBAIXO DA TERRA
“1810
Março 2 começaram esta semana os trabalhos nos fortes da terra chamados as Linhas de Torres Vedras.”
As Invasões Francesas fazem parte de um período recente da história de Portugal.
E ainda que as fontes documentais sejam bastante ricas, efetivamente pouco se sabia sobre as técnicas construtivas dos fortes que constituíram as Linhas de Torres, assim como sobre os postos de sinais - ambos imprescindíveis para a vitória do exército anglo-luso.
As intervenções arqueológicas que se realizaram em Mafra, à semelhança do que aconteceu nos outros cinco municípios que integram a Rota Histórica das Linhas de Torres (Arruda dos Vinhos, Loures, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira), trouxeram à luz do dia um passado oculto pela terra, durante 200 anos!
Do conjunto das diversas obras militares intervencionadas no município de Mafra - Forte Pequeno e Forte Grande da Enxara (2008), Forte do Juncal (2009), Forte de São Julião (2018), Forte da Quinta do Estrangeiro (2018) e Forte da Presinheira (2021) - as escavações arqueológicas, aliadas aos trabalhos de conservação e restauro que se realizaram no Forte do Zambujal (2009) e no Forte da Feira (2010-2011), permitiram-nos recolher um conjunto de informações que complementaram a forma como, até então, estas estruturas eram compreendidas.
Também as intervenções na Serra do Socorro e a realização da primeira réplica portuguesa de um Telégrafo de 5 balões (ou Telégrafo de Wellington), conduziu ao aumento exponencial do conhecimento do funcionamento do sistema de telegrafia ótica, utilizado em Portugal durante a 3.ª Invasão Francesa.
FORTE DO ZAMBUJAL
Situado na povoação que lhe dá o nome, o Forte do Zambujal corresponde a uma obra extraordinária e única.
Esta estrutura pode ser dividida em duas áreas, quase como se dois fortes se tratassem.
Na área superior, a existência de três traveses (proteções construídas em terra) adossados ao parapeito, permitiriam o lançamento de granadas.
Rasgando a terra – um túnel permite o acesso à área inferior, através de um conjunto de degraus dos quais restam ainda alguns dos originais. Parte de um muro descoberto durante as intervenções arqueológicas permite aventar a hipótese do encerramento deste túnel e a separação das duas zonas.
Um imponente corredor de acesso (escavado na rocha e complementado com parede de alvenaria) permite o acesso ao local onde estariam instaladas as duas peças de artilharia.
Esta estrutura encontra-se alinhada com o primeiro fosso, terminando em duas paliçadas de madeira que fechariam lateralmente o acesso ao segundo fosso que envolve a bateria.
Alguns elementos desta paliçada, assim como parte da plataforma que estaria colocada sob os canhões, foram identificadas durante as escavações de 2009.
O Forte do Zambujal pode ser considerado, por todas estas razões, uma das mais complexas construções das Linhas de Torres.
FORTE DA FEIRA
Localizando-se na Vila da Malveira, o Forte da Feira apresenta uma planta em estrela (tipo Vauban) com um fosso escavado na rocha que envolve toda a estrutura.
Os trabalhos arqueológicos (2010-2011) vieram trazer novos (e surpreendentes dados) para a compreensão deste forte.
A entrada era protegida por construções em terra, configurando uma planta em cotovelo, sendo complementada com uma paliçada em madeira. Foi ainda detetado o arranque da ponte em madeira e a porta da fortificação.
Apesar de não existir qualquer indício prévio, foi possível identificar uma construção complexa, em alvenaria e madeira, numa das áreas mais importantes da fortificação – o paiol (hoje parcialmente reconstruído).
Vestígios de um telhado de duas águas, uma rampa, um estrado e madeira, sob o qual tinha início um sistema de escoamento de águas estruturado, foram algumas das descobertas realizadas nesta estrutura para o armazenamento da pólvora.
No Forte da Feira estão, ainda, documentadas seis canhoneiras, tendo sido selecionadas duas para escavação e onde foi possível identificar paredes em pedra de proteção lateral e a base de sustentação de uma plataforma em madeira.
SERRA DO SOCORRO
TELÉGRAFO DE 5 BALÕES
A existência de um telégrafo na Serra do Socorro encontra-se atestada em documentos escritos e em gravuras da época, mas existem reduzidas informações sobre o telégrafo utilizado, a sua localização e a guarnição que estaria aqui destacada. A proposta de telégrafo apresentada na Serra do Socorro combina as fontes documentais, os dados arqueológicos (possível buraco de poste) e a experimentação efetuada com o Museu de Marinha (Fragata Dom Fernando II e Glória). Nenhuma das informações atrás descritas estará completa sem uma visita a estas estruturas defensivas nos seis municípios que integram a Rota Histórica.
Visite as Linhas de Torres…
Conheça mais sobre este Passado recente que durante dois séculos permaneceu debaixo de terra!
