TELEGRAFIA ÓPTICA

“[…] Transmiti uma mensagem de Alhandra para Mafra, pela nossa cadeia de postos, em – minutos, de modo que já não há receio sobre a sua resposta, com tempo razoavelmente limpo”

John Jones (para Fletcher), 3 de agosto de 1810

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A necessidade de comunicar com rapidez existiu desde sempre (ainda que de uma forma menos intensa e imediata daquela que sentimos na atualidade). No fim do século XVIII, países como França, Bélgica e Inglaterra dominavam já um sistema de comunicação baseado em telegrafia ótica. Postes de sinais, de grandes dimensões, transmitiam mensagens codificadas entre si, em rede e à distância, com o auxílio de uma luneta ou monóculo para a sua observação.

No início do século XIX, temendo uma invasão por parte dos franceses (que acabou por acontecer, não apenas uma, mas três vezes), Francisco Ciera, um multifacetado cientista português, foi incumbido de criar uma rede telegráfica, também, em Portugal. A genialidade de Ciera manifestava-se na forma clara com que apresentava soluções. E tanto o “Telégrafo de ponteiro” que inventou, como o “Telégrafo de 3 balões” e o “Telégrafo de 3 persianas” que concebeu, reformulando outros idênticos, eram mais simples, mais baratos, mais fáceis de manobrar e mais rápidos do que quaisquer outros que existissem no mundo à época.

No decorrer da 3.ª Invasão (1810-1811) a transmissão de mensagens recorreu a essa rede - um sistema de comunicações que garantia a segurança na transmissão de ordens, decisões e informações, de uma forma veloz e secreta. Foi utilizado o sistema criado por Ciera e o sistema inglês, também chamado de “Telégrafo de 5 balões” (ou de Wellington) que adaptou os códigos usados pela Armada Britânica (Royal Navy). As comunicações eram complementadas por mensageiros. O sistema de comunicações das Linhas de Torres Vedras encontrava-se estabelecido em duas estações de sinais localizadas em pontos proeminentes (Serra do Socorro e Montachique) e numa rede de postos de sinais instalados em oito fortificações (quatro deles situados no Concelho de Mafra).

“[…] O [telégrafo] Português (que propus depois de ter examinado muitos outros) tem uma só manivela, com a qual se dá ao seu único ponteiro as inclinações de 45º em 45º em relação ao mastro vertical; de sorte que um só homem observa, faz os sinais, e escreve, tudo a um tempo; pois tem a vista aplicada a uma luneta fixa a um mastro, move a manivela com a mão esquerda, ficando-lhe a direita livre para poder escrever em uma pedra […]. À primeira vista parece impossível satisfazer a tudo somente com 8 sinais: consegui isto por meio de um dicionário que compus – com muito trabalho – e que contém mais de 60.000 palavras ou frases […].

A correspondência de Lisboa para Mafra fez-se muito tempo somente com 3 telégrafos um dos quais estava em Monsanto, o 2.º no Sabugo, e o 3.º na tapada de Mafra. […] Porém […] S. A. R. [Sua Alteza Real – O Príncipe D. João], ordenou que as participações dos navios fossem imediatamente da torre de Belém, e mandou colocar um 5.º telégrafo sobre o terraço [do Palácio de Mafra] para comodamente poder presenciar o que se fazia e fazer mesmo pela Sua Mão alguns sinais […]”.

António Francisco Ciera [adaptado]